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Redação do Site Inovação Tecnológica – 18/03/2021
O ‘Oumuamua um charuto ou uma panqueca?
[Imagem: William Hartmann]
Pedao de um pluto
Dois astrofsicos da Universidade Estadual do Arizona, nos EUA, acreditam ter encontrado a origem do ‘Oumuamua, o primeiro corpo celeste interestelar observado pelo homem.
A primeira novidade do estudo que Steven Desch e Alan Jackson aderiram a uma viso alternativa sobre o formato do cometa/asteroide.
Em vez do formato de charuto proposto inicialmente, eles acreditam que o conjunto de observaes justifica uma interpretao dos dados que d ao corpo celeste de fora do Sistema Solar o formato de uma panqueca girando sobre o prprio eixo.
Outra hiptese levantada pela dupla que o ‘Oumuamua deve ter-se originado de corpos celestes similares a Pluto – no o nosso planeta ano Pluto, mas os “plutes” do sistema planetrio onde o ‘Oumuamua se originou.
“Esta pesquisa empolgante porque provavelmente resolvemos o mistrio do que o ‘Oumuamua e podemos identific-lo razoavelmente como um pedao de um ‘exo-Pluto’, um planeta semelhante a Pluto em outro sistema solar,” entusiasma-se Desch. “At agora, no tnhamos como saber se outros sistemas solares tinham planetas semelhantes a Pluto, mas agora vimos um pedao de um passar pela Terra.”
Primeiro objeto interestelar
Descoberto em 2017 pelo observatrio Pan-STARRS, no Hava, o ‘Oumuamua (seu nome de catlogo 1I/2017 U1, onde 1I indica primeiro objeto interestelar), cruzou o plano do Sistema Solar a 87,3 quilmetros por segundo. O objeto estranhamente plano, pareceu inicialmente ser um cometa, mas depois suas caractersticas se mostraram estranhas o suficiente para inviabilizar todas as tentativas de classificao.
Os dois pesquisadores levantam a hiptese que o ‘Oumuamua teria uma composio rica em nitrognio slido, como a superfcie de Pluto, tendo sido provavelmente arrancado do seu exo-pluto h pelo menos 500 milhes de anos, por um impacto forte o suficiente para arremess-lo rumo s estrelas – no caso, rumo nossa estrela.
“O ‘Oumuamua provavelmente no era plano quando entrou em nosso Sistema Solar, mas derreteu-se em uma lasca, perdendo mais de 95% de sua massa, durante sua aproximao do Sol,” teoriza Jackson. “Ser feito de nitrognio congelado tambm explica a forma incomum do ‘Oumuamua. medida que as camadas externas de gelo de nitrognio evaporavam, a forma do corpo teria se tornado progressivamente mais achatada, assim como uma barra de sabo faz quando as camadas externas so removidas atravs do uso.”
uma ideia plausvel, mas se o raciocnio est correto falta explicar porque as bordas no derreteram, j que as barras de sabo ficam achatadas porque s passamos as mos em suas superfcies maiores, e o ‘Oumuamua gira, o que significa que ele inteiro sofreu a ao “das mos do Sol”.
Ilustrao de uma histria plausvel para o Oumuamua, mostrando uma origem em seu sistema h cerca de 0,4 bilho de anos; a eroso por raios csmicos durante sua jornada ao Sistema Solar; e sua passagem por aqui, incluindo sua aproximao mxima do Sol, em 9 de setembro de 2017. Em cada ponto ao longo de sua histria, a ilustrao mostra o tamanho previsto do ‘Oumuamua, e a proporo entre seus lados mais longo e mais curto.
[Imagem: S. Selkirk/ASU]
Sonda aliengena
uma boa histria, mas necessrio entender os passos que os dois cientistas deram para chegar at ela.
O objeto entrou no Sistema Solar a uma velocidade um pouco menor do que seria de se esperar, indicando que ele no viajou no espao interestelar por mais do que um bilho de anos.
A seguir, ele se acelerou ligeiramente para longe do Sol. Os cometas tm o chamado “efeito de foguete”, quando a luz do Sol vaporiza os gelos em seu interior. Mas o impulso do ‘Oumuamua foi mais forte do que o que o efeito foguete poderia explicar, o que levou s teorias de que o ‘Oumuamua poderia ser uma sonda aliengena.
Alm disso, o objeto no apresentou nenhum um gs escapando detectvel, que tipicamente aparece na forma da cauda dos cometas.
Desch e Jackson levantaram ento a hiptese de que o objeto seria feito de gelos diferentes, e usaram essa ideia para calcular a rapidez com que esses gelos se sublimariam (passando de um slido para um gs) conforme o ‘Oumuamua passava pelo Sol. A partir da, eles calcularam o efeito de foguete, a massa e a forma do objeto e a refletividade do gelo.
“Foi um momento emocionante para ns,” disse Desch. “Percebemos que um pedao de gelo seria muito mais reflexivo do que as pessoas [os cientistas] estavam presumindo, o que significava que ele [o pedao de gelo] pode ser menor. O mesmo efeito de foguete daria ao ‘Oumuamua um empurro maior, maior do que os cometas geralmente experimentam.”
Hipteses provveis
Os dois ento partiram em busca de um gelo que pudesse justificar suas interpretaes, encontrando um bom candidato no nitrognio slido. Foi da que nasceu a ideia de que o ‘Oumuamua teria se originado de um planeta parecido com Pluto em outro sistema planetrio, j que o nosso Pluto tem nitrognio slido.
E tambm nasceu a ideia do decrscimo em tamanho do pedregulho interestelar, j que o gelo de nitrognio teria que se evaporar rapidamente com a proximidade do Sol.
“Soubemos que tnhamos acertado na ideia quando conclumos o clculo de qual albedo (o quo reflexivo um corpo) faria o movimento do ‘Oumuamua corresponder s observaes,” contou Jackson. “Esse valor acabou sendo o mesmo que observamos na superfcie de Pluto ou Trito, corpos cobertos por gelo de nitrognio.”
Como agora o ‘Oumuamua j est longe demais, e ainda no temos naves espaciais capazes de persegui-lo em uma campanha de observaes, teremos que nos contentar com interpretaes como estas, cheias de “se, e se…” – mas a interpretao dos dois astrofsicos talvez seja a mais completa feita at agora, e faz sentido. Pelo menos at que outros cientistas encontrem falhas no raciocnio ou explicaes melhores.
Artigo: 1I/Oumuamua as an N2 ice fragment of an exo-pluto surface II: Generation of N2 ice fragments and the origin of Oumuamua
Autores: Steven J. Desch, Alan P. Jackson
Revista: Journal of Geophysical Research: Planets
Vol.: e2020JE006807
DOI: 10.1029/2020JE006807
Artigo: 1I/Oumuamua as an N2 ice fragment of an exo-Pluto surface: I. Size and Compositional Constraints
Autores: Alan P. Jackson, Steven J. Desch
Revista: Journal of Geophysical Research: Planets
Vol.: e2020JE006706
DOI: 10.1029/2020JE006706
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