Ui, dor de coração
Talvez você não saiba, mas a maior parte dos contos de fada e de lendas antigas têm um apetite grande pela violência, pela crueldade e pelo macabro. Na época, o objetivo era assustar as crianças mesmo. Ou seja, para que os pequenos não se aventurassem pela floresta, os pais contavam a história da Chapeuzinho Vermelho, que era devorada pelo lobo, e encontrada por um caçador nas entranhas do bicho.
O site College Humor fez uma versão ilustrada de alguns dos desenhos da Disney, e vamos explicar a origens das lendas pra você. Só tome cuidado: os textos (e algumas das imagens) são evil. MUAHAHAHAHA
Aladdin
Aladim e a Lâmpada Maravilhosa é um dos contos do livro As Mil e Uma Noites, que existe desde o século IX, e narra diversas aventuras que se passam do sul Ásia e no Oriente Médio. Nascido na China, o garoto se recusa a ser alfaiate como o pai, e encontra um feiticeiro que lhe propõe encontrar uma lâmpada mágica. Ele realmente encontra uma princesa, com quem se casa, e tempos mais tarde o mago retorna para roubar os poderes da lâmpada. Ele envia Aladim para a África, mas o tenaz garoto usa um anel mágico, volta para casa e assassina o feiticeiro e o irmão dele.
A Pequena Sereia
No texto original dinamarquês, a Bruxa do Mar corta a língua de Ariel, rasga sua cauda em duas para que ela possa andar no mundo dos humanos. Sim, a sereia sente dor a cada pisada. As irmãs de Ariel tentam convencê-la a voltar para a superfície e arrancam os cabelos da protagonista, tentando ofertá-los para a Bruxa. A feiticeira dá um punhal para que Ariel assassine o príncipe e volte a ser sereia. No final, nada dá certo: o príncipe se cada com outra, ela não consegue matá-lo, e acaba por se atirar no abismo do mar gelado, virando espuma do mar.
Branca de Neve
Na adaptação do conto pelos irmãos Grimm, de 1812, o Príncipe Encantado não dá um beijo na protagonista e tudo se resolve. Na verdade, ao transportar o caixão de vidro, o corpo da garota cai no chão, e o pedaço de maçã envenenada pula para fora da garganta dela. No casamento de Branca de Neve, ela obriga a madrasta a danças sobre brasas usando um sapato de ferro. Ela morre com o fogo e de tanto dançar.
Cinderela
Há versões do conto de Cinderela na China do século IX e na França, com o autor Perrault. Na versão europeia antiga, o conto segue mais ou menos a história da Disney, mas se os ratinhos cantantes. A principal diferença está no que fazem suas irmãs do mal: para tentar encaixar no sapatinho de cristal, ambas cortam pedaços dos seus pés fora.
Hércules
O conto de Herácles (o nome grego de Hércules) começa com Zeus se aproveitando de uma moça humana, a mãe do herói. Hera, a esposa de Zeus, fica putíssima e manda duas serpentes atacarem o infante no berço. Herácles cresce forte e destemido, e se casa com Mégara, com quem tem dois filhos, mas em um acesso de loucura provocado por Hera, mata as crianças. Para se redimir, ele realiza os famosos 12 trabalhos. Muitos anos depois, desposa a segunda esposa, Dejanira, mas se apaixona por outra mulher, Iole. Assim, Dejanira o dá uma túnica envenenada. Sem conseguir tirá-la, Herácles se atira no fogo, e Zeus o dá um espaço no Olimpo.
Mulan
Uma famosa lenda chinesa narra o conto de Hua Mulan, que se disfarça de guerreiro para substituir o pai no exército. Ela luta por 12 anos, e os companheiros só reparam que ela é uma mulher quando ela já está em casa. Bem menos sangrento na versão original, certo? Pois há uma segunda versão em que Mulan volta para casa para encontrar o pai morto, sua mãe casada com outro homem, acaba selecionada como concubina, e prefere se matar a aceitar o seu destino.
Pinóquio
Publicada em um jornal italiano durante o período de 1881 a 1883, e na versão original Pinóquio não é um garotinho fofo, é mentiroso de verdade, ingrato, teimoso, um total mala. Antes mesmo de virar menino, seus inimigos o enforcaram em um carvalho com as cordas que ligavam os membros do boneco. E sim, como não queria ter consciência, ele assassina o grilo falante com um martelo.
Rapunzel
Há uma versão francesa e uma alemã. Em ambas, Rapunzel foi dada a bruxa como pagamento de uma dívida, e nelas, a menina usa os cabelos para dar uma saidinha da torre. Ela conhece um rapaz e engravida. Quando a madrasta nota a barriga, ela corta os cabelos mágicos de Rapunzel (na versão francesa), e empurra o namorado do alto do edifício. Rapunzel o salva com seus cabelos, que crescem instantaneamente, e o casal assassina a bruxa. Na versão alemã, e sem madeixas mágicas, o namorado da Rapunzel fica cego com a queda, e a madrasta condena Rapunzel a vagar pelo deserto com seus gêmeos. O rapaz encontra sua amada pela audição, e as lágrimas dela curam a cegueira dele.
Tarzan
O livro original que serviu de base para Tarzan foi escrito em 1912, e colocava o homem branco como superior às outras raças. Pois é, não tão legal quanto parece. Como uma adaptação moderna da história mitológica de Remo e Rômulo, Tarzan teve diversas continuações. No primeiro conto, ele nem fica com Jane, e em um momento, ambos vão viver em Baltimore, e depois retornam à África.
Bela Adormecida
Talvez a pior lenda entre as já citadas aqui. Na versão original, de 1634, um pedaço do linho (sim, não era agulha) fica embaixo da unha da princesa, e ela dorme por muito tempo. Enquanto isso, um rei encontra a garota, a estupra e ela engravida. #chocada! A Bela Adormecida dá luz a dois filhos, e um dele retira por acidente o linho que a mantinha em sono profundo. O rei tenta assassinar as crianças bastardas, mas, porque não consegue, queima a sua esposa viva e desposa Bela Adormecida.
Felizes para sempre é um conceito contemporâneo.
Flávia Gasi é doutora e mestre pela PUC-SP. Lançou o livro Videogames e Mitologia. Atualmente é escritora (também de videogames); CEO da Forja; professora; e tradutora. Defende a democratização dos consoles, direitos iguais no game e o direito de comer sucrilhos sem leite.
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